Contra o dia burocrático e o modo funcionário de viver

21.11.07

Portugal, Portugal

Ontem assisti ao concerto do Jorge Palma, no Coliseu. Foi-se o mito do Palma abstémio, mas ficou um concerto memorável. O pobre estava afónico, e parece que teve de recorrer a métodos clínicos extremos para ganhar voz. A sala tinha uma iluminação parecida à de um campo de futebol. Não nos sentimos íntimos do cantor, mas sentimo-nos privilegiados – pelo menos nós os quatro, que fomos juntos. O ar de felicidade infantil contemplativo do Coliseu cheiinho, o olhar de pai babado a admirar o filho mais velho na perseguição das passadas paternas, a «Estrela do Mar», o «Bairro do Amor», o «Ai Portugal», o «Encosta-te a mim», a «Casa do Capitão» e etc., e etc., fizeram da noite de dia 20 de Novembro memorável. E tu, claro.

16.11.07

Kontrastes 3.0



Hoje fui «convidada» para um cappuccino com o João Ferreira Dias, do Kontrastes 3.0.

Novidade, novidades

Visita recomenda-se:
http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt

12.11.07

Mind the gap

Às vezes, no melhor dos cenários, que parece encenado para dar espaço a um dia feliz, somos surpreendidos pelo vazio que chega não anunciado, pelo desaparecimento de pessoas importantes nas nossas vidas. E por melhor que corra aquele dia, a felicidade da encenação e da cenografia, pára tudo. Seja em que sítio for, seja como for, e num microsegundo todos os pensamentos, momentos, sentimentos, perdem-se da gravidade e perseguem velozmente a luz, sem norte, sem regra, e a ausência de sentido toma conta de nós. Os músculos perdem a reacção e o guião não contemplava aquele telefonema.


Este sábado, na distância do enredo que naquele momento vivia, recebi um desses telefonemas. O Armando Rafael morreu. Fiquei sem chão, ou terá sido mesmo o chão que ganhou a guerra dos passos e fez de mim cativa? Não se morre sem prelúdio, não se morre aos 45 anos, não se morre assim. Não se morre.


Conheço – aqui reside uma das mais prolongadas dificuldades: a adaptação do tempo verbal ao novo real – o Armando desde os 16 ou 17 anos. Há, havia, cerca de 13. Vi-o sempre da mesma forma, no mesmo registo temperamental, numa acalmia agitada mas serena. Li-o sempre com esse registo prévio de amizade. Aprendi sempre mais alguma coisa sobre um qualquer assunto de uma das nossas conversas, em presença ou num telefonema que deixava uma vez mais adiado um almoço que, de há dois anos a esta parte, não aconteceu.


E foi precisamente num outro telefonema que soube. E não quis saber. Não quero saber. Diz bem a letra da «125 Azul» dos Trovante que «só Deus tem os que mais ama». Mas que espécie de consolo é que isso oferece a alguém? Não quero saber. Acho que aterro em Lisboa, os dias correm, e num deles vou encontrar o Armando nos Paços do Conselho, atarefado, a prometer-me – e eu a prometer-lhe – a combinação do almoço que ficou adiado sine die.

7.11.07

E onde é que "eles" estavam?


Título de abertura da secção de desporto do Público, de ontem: Camacho diz que o jogo de hoje em Glasgow é "para homens".

E Menezes continua a fazer de conta que não percebe?

O almoço entre o líder partidário e o líder parlamentar parece não ter aguçado a criatividade de Pedro Santana Lopes, já tão pouco - ou nada - visível no debate de ontem. Na discussão na generalidade, há um par de horas, a ideia forte de Santana Lopes limitou-se a esta «sugestão»:
Ficava bem a este Governo aceitar a sugestão de pedir ao Banco de Portugal que faça com este Orçamento de Estado para 2008 o mesmo exercício que fez em 2005.
Com muita pertinência e síntese, escrevia Octávio Ribeiro, no Correio da Manhã de ontem:
Pouco mais de dois anos e meio depois de sofrer a maior derrota eleitoral de sempre, como está o centro-direita em Portugal?
A julgar pela imagem que hoje teremos do Parlamento, afinal o Governo mais errático de que há memória nas décadas de democracia consolidada não passou de um pesadelo. Santana Lopes nunca foi primeiro-ministro? Paulo Portas jamais se prestou ao papel do parceiro de coligação com pose de Estado?
E, de repente, breves 31 meses depois, ali estão, no hemiciclo, Santana Lopes e Paulo Portas, líderes parlamentar e partidário, respectivamente. Este inverosímil facto é um desastre para o centro-direita e para quaisquer aspirações à reconquista do poder a um José Sócrates, socialista mas pouco.
Não é possível, por mais corrosiva que seja a voragem dos dias nos mecanismos da memória, que os cidadãos não reajam no mínimo com um sorriso a esta incapacidade de renovação na área política que reivindica como sua a capacidade reformista (…).

5.11.07

E Menezes faz de conta que não percebe?

Pois, vai fazendo. Nada a fazer, aliás. Este inédito regresso ao passado, reeditando-se a bicéfala direita de Santana Lopes e Paulo Portas, a novidade bicéfala na liderança do PSD, os ajustes (de contas) de PSL... uma apocalíptica viagem na máquina do tempo. Quase tão apocalíptica como o Sol colocar Santana Lopes solitariamente à sombra:

Não bastavam os inéditos saneamentos de barrosistas nas comissões parlamentares e as dívidas, pagamentos indevidos e multidões de assessores que deixou atrás de si na sua passagem pela Câmara de Lisboa. Agora, para vincar que não é apenas um «n.º 2», até tratou de se fazer substituir nas reuniões da direcção do PSD por... Pedro Pinto! Um precedente insólito. E Menezes faz de conta que não percebe?

Sol, 2007.11.03

5 Dias

Qu’est-ce que c’est que cette question?

Kitsch e pontapés na História




Escreve Eurico de Barros, no DN de ontem, sobre uma estória sem história ou História: O segundo filme da trilogia de Shekhar Kapur sobre a figura e o reinado de Isabel I, interpretada por Cate Blanchett, agrava seriamente o caso do original, Elizabeth (1998). Kapur filma a era isabelina como se estivesse a cruzar um filme de Bollywood com um derivado de O Senhor dos Anéis, carrega no Kitsch e dá mais pontapés na História do que os avançados do Benfica na bola no decorrer de um jogo.
Valha-nos a Cate Blanchett e o Rui Costa.